Dona Terezinha sabe das coisas

Dona Terezinha sabe das coisas

Encontrar com a Dona Terezinha, que vai para 88 anos em março, é sempre oportunidade de aprendizagem. Nos esbarramos nesta terça-feira (9), entre as barracas dos legumes e do pastel na feira-livre da Mont’Alverne.

Ela, sempre energética, firme e viva. Ela, repleta de sabedoria. Eu, sempre atento, ouvindo-a com interesse e simpatia, como um aluno a seu mestre.

“Amor, perdão e gratidão. São apenas essas três coisas em religião. O resto é Pix.”

“Se você fez alguma coisa errada no passado, peça perdão e trate de fazer correto dessa vez”, exemplifica, prática. E compara com o mato que se imiscui entre as hortaliças. “Esse mato precisa ser retirado. Na minha casa, de 14 de frente por 47 de fundo, minha horta não tem um matinho sequer. É isso.”

Ela então mostra que cruzar os braços sobre o nosso peito é “abraçar o Deus que existe em nós”.

E abraçar um ao outro é “abraçar o Deus que existe no outro”, e vice-versa. E me abraça e abraça também o feirante da banca dos legumes.

“Não é bom?”

Opa, se é.

Dona Terezinha observa que um dos problemas da gente hoje é a “ganância”. Que faz com que a gente nunca esteja feliz e viva reclamando sempre querendo mais.

“Mas veja como está o mundo! Tanta guerra, tanta gente morrendo de fome e a gente ainda vai reclamar?! Reclamar de quê?! Querer mais o quê?!”

Dona Terezinha é uma atração da feira, há décadas. E se sente feliz de ser querida. “Me ligaram ontem ainda daqui para me desejar feliz Ano-Novo. Ganhei o dia. Falei com o senhor, também ganhei o dia.”

E ela vai assim, bulindo com a gente, fazendo alguma arrelia qual palhaço, dando suas piruetas quase acrobáticas (ela estica os braços até o chão, curvando-se, para mostrar a boa forma), chamando a atenção da gente para a importância de a vida ser bem vivida.

Eu, que ando meio obnubilado por pensamentos de sombra, um pouco fatigado, fiquei muito pensando no exemplo dessa viva senhora.

E saí da feira me cobrando um pouco mais de serenidade e otimismo, porque de verdade não está tão ruim assim, né?

Dona Terezinha sabe das coisas.